Friday, August 29, 2008

"De homem para homem", na Cornucópia

Uma peça, ao estilo de Brecht, com umas das melhores actrizes portuguesas da actualidade!!
A não perder!

De 11/9 a 5/10, de terça a sábado.
http://www.teatro-cornucopia.pt/htmls/conteudos/EkEyyFVkEuEiwIhOPF.shtml

PREÇOS
Normal: 15€
50 % de desconto para estudantes, jovens até 25 anos e maiores de 65 anos (7,5€)

Beatriz Batarda vai estar sozinha em palco na peça "De Homem para Homem", a história de Ella, uma mulher que perde a sua identidade e que se dedica a sobreviver a qualquer preço.
A peça será apresentada de 11 de Setembro a 5 de Outubro no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, e tem encenação do espanhol Carlos Aladro, que há um ano dirigiu Beatriz Batarda e Luís Miguel Cintra em "O Construtor Solness", de Henrik Ibsen.
"Ella não tem identidade, perde a identidade por desespero. Com medo de fazer as escolhas erradas, faz sempre as escolhas erradas, em actos de valentia, no fundo, faz a escolha cobarde e vai perdendo a sua humanidade ao longo dos tempos por fazer essas más escolhas", declarou à Lusa a actriz, que agora se estreia num monólogo.
O texto, de Manfred Karge, conta a história desta mulher ao longo de quase 50 anos, que percorrem também a História da Alemanha dos anos 30 até ao início dos anos 80.
Ella é uma mulher que não consegue arranjar emprego e se casa com um homem mais velho e doente para ter casa e comida. Quando descobre que o marido tem cancro, decide fazer-se passar por ele para não perder o emprego.
"De certa maneira representa a cobardia das pessoas perante a guerra, o medo, a fome. Escolhe o caminho que lhe parece mais fácil, sem solidariedade, sem moral, sem responsabilidade, sem causa nenhuma. Vai-se transformando num verdadeiro monstro", resumiu a actriz.
"É uma mulher que não se sabe se é uma mulher, se um homem, se uma coisa intermédia e que basicamente se dedica a sobreviver a qualquer preço", acrescentou o encenador Carlos Aladro.
Para Beatriz Batarda, o autor seguiu uma estrutura e uma herança dramatúrgica de Bertolt Brecht, "introduzindo, não só a denúncia política, mas também uma visão muito lúcida do que seria o futuro, que é o presente actual, a invasão do capitalismo, do individualismo e do vazio".
Há muito tempo que a actriz acalentava o desejo de fazer a peça.
"Vi uma actriz maravilhosa a fazer este papel em Inglaterra", indicou, referindo-se a Tilda Swinton.
Anos mais tarde, depois de ter ido estudar para Londres, Beatriz Batarda foi encorajada pelo encenador que dirigira Swinton na peça a representá-la.
Agora, o impulso decisivo veio do fundador do Teatro da Cornucópia, Luís Miguel Cintra.
"Tenho tido sempre nesta profissão uma postura de pura intérprete e nunca tive uma vontade ou coragem de empreendedora, de pôr um projecto a andar para a frente. Na verdade, não o teria feito se não tivesse sido provocada pelo Luís Miguel Cintra", confessou.
Depois surgiram apoios inesperados. A Cornucópia tinha um mês livre e cedeu o espaço (Teatro do Bairro Alto) e Batarda concorreu a um concurso de apoio pontual.
"Para mim era claríssimo que este projecto era uma coisa que eu queria fazer com o Carlos [Aladro], porque, para além de ter muitas qualidades, sabe muito bem como funciona a cabeça do actor, estimula imenso os actores", adiantou.
O encenador sublinhou, por sua vez, que este "é sobretudo um trabalho de interpretação".
"O trabalho que fizemos juntos foi ilustrar, criar as imagens que estão no texto. Apoio-me sobretudo no trabalho da Beatriz", referiu, apontando que esta peça, "com uma dramaturgia não convencional", apresenta 26 quadros com diferentes formatos de texto.
"Fazemos muitos jogos entre estas várias linguagens, o texto ajuda muito porque varia entre prosa e verso e tem muitas canções [tradicionais alemãs], também naquela tradição do Brecht", assinalou a actriz, que, questionada sobre a dificuldade de estar sozinha em palco, confessou que "é horrível".
O cenário, da autoria de Manuel Aires Mateus, é muito abstracto, com poucos objectos, sem efeitos.
"É o mínimo necessário para contar a história, para criar as imagens que criam a história", indicou o encenador.

1 comment:

Unknown said...

E viu-se a peça!!
A história em si é interessante, embora nao encantadora... Tb nao é esse o objectivo!
A prestação da Beatriz Batarda foi, como sempre, brilhante!
A peça permite explorar e transmitir diferentes niveis de emotividade e sensações, e a actriz soube explorá-las todas muito bem! Desde os momentos mais dramáticos, em que se encolhia cheia de 'dor', até aos momentos mais alegres, mais brejeiros, em que assumia o papel de uma mulher experiente e madura, a quem a vida já nada tem p ensinar! Ou ainda o lado timido de Ella vestida de homem ao lidar com uma apaixonada por ele/ela... Tudo é transmitido numa torrente de sensações exploradas de forma intensa ou calma, gritante ou silenciosa...
Brilhante, como sempre!...